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(Re)aprendendo a aprender: como a IA generativa está transformando o mercado de trabalho e a educação


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O lançamento do ChatGPT, em novembro de 2022, foi um marco para a popularização da inteligência artificial (IA). Em apenas 5 dias, a tecnologia atingiu a marca de 1 milhão de usuários. Atualmente, são mais de 400 milhões de usuários ativos semanalmente. Depois do ChatGPT, diversos concorrentes foram lançados: do Claude, criado por dissidentes da OpenAI, ao DeepSeek, concorrente chinês que causou um grande impacto no setor, passando por modelos brasileiros (como o Sabiá), franceses (Mistral) e de big techs (Gemini, da Google, e Llama, da Meta). Isso para falar apenas de Modelos de Linguagem de Grande Escala (Large Language Models, ou LLMs, em inglês), uma fatia das IAs generativas que cria textos, imagens, músicas e até vídeos com base em exemplos que aprendeu.

Quando olhamos para toda a gama de modelos e aplicações de IA generativa, vemos que já existem, com maior ou menor eficácia, opções para apoiar uma imensa quantidade de tarefas de trabalho. A partir do momento que isso é possível, surge a questão de como (re)qualificar a força de trabalho para uma realidade em que a IA generativa permeia o cotidiano profissional, o ensino e a aprendizagem.


Os impactos da IA generativa sobre o mercado de trabalho

Um estudo da Organização Internacional do Trabalho (OIT) estima que 2,4% da força de trabalho brasileira estariam expostos à automação por conta da IA generativa, enquanto 13,1% teriam potencial de ter suas capacidades de trabalho ampliadas pela tecnologia.

O relatório Future of Jobs 2025, do Fórum Econômico Mundial, produziu um levantamento com mil empregadores de 55 países, representando 14 milhões de trabalhadores, e apontou que 39% das habilidades principais exigidas da força de trabalho vão mudar nos próximos cinco anos e 59% dos trabalhadores precisariam passar por programas de (re)qualificação profissional para lidar com essa e outras novas tecnologias.

Chama a atenção a capacidade da IA generativa em executar uma extensa variedade de tarefas que demandam habilidades até então consideradas estritamente humanas, como a criatividade.

Um levantamento da McKinsey feito com especialistas em IA generativa, representantes do setor produtivo e do mundo acadêmico em 2017 e 2023 mostrou que houve uma redução expressiva na expectativa de anos até que as máquinas sejam capazes de demonstrar certas habilidades de maneira similar aos humanos. Em diversos casos, a IA generativa provocou uma redução de 15 a 20 anos na expectativa de que as máquinas exerçam habilidades humanas, como foi o caso da criatividade, que passou de 2045 para 2025; da geração de linguagem natural, de 2042 para 2024; e do raciocínio lógico, de 2043 para 2027.


IA generativa na educação: nem vilã, nem heroína

Se a IA generativa é uma força motriz de mudanças substanciais no presente e futuro do trabalho, também há considerável expectativa quanto ao seu potencial de mudar a aprendizagem como a conhecemos. Além de acelerar ainda mais o processo de mudança das habilidades e da divisão do trabalho entre humanos e máquinas, ela exige cada vez mais uma aprendizagem ao longo de toda a vida profissional (lifelong learning), não apenas para manter a empregabilidade, mas também para desenvolvimento pessoal e avanço na carreira.

Além disso, a IA generativa pode ser uma aliada da inovação na educação, ajudando a atender à crescente demanda por requalificação profissional que ela mesma está causando. Do lado da aprendizagem, já existem diversas ferramentas de IA generativa que podem ajudar os estudantes, como aplicativos de notas inteligentes (ex.: NotebookLM), tutores virtuais (ex.: Khanmigo) e geradores de questionários para avaliação da aprendizagem (ex.: Mindgrasp). Com relação aos professores, o trabalho também pode ser apoiado pela IA. As atividades de preparo de aulas, por exemplo, já contam com ferramentas de IA para geração de vídeos com avatares digitais (ex.: Synthesia) ou criação de planos de aula (ex.: MagicSchool).

Entretanto essa visão positiva não é a única possível. Ao ser lançado, o ChatGPT foi rapidamente visto como uma ferramenta que atrapalharia o desenvolvimento dos alunos, visto que executariam as atividades por eles. O receio quanto aos impactos negativos sobre a educação fez com que diferentes instituições de ensino proibissem e punissem os estudantes que fizessem uso da IA generativa.

Há um novo campo da ciência que tem se dedicado a analisar os possíveis impactos do uso da IA generativa sobre o nosso desenvolvimento cerebral. Embora não haja estudos conclusivos sobre seu impacto direto no desenvolvimento cerebral, é essencial considerar os efeitos já observados do uso excessivo de tecnologias digitais. Como a IA generativa pode reduzir a necessidade de esforço cognitivo por parte dos usuários, essa facilidade pode levar à atrofia de habilidades cognitivas fundamentais, como pensamento crítico, capacidade de reflexão e criatividade, uma vez que os indivíduos podem se tornar dependentes dela para resolver problemas e gerar ideias em vez de desenvolver essas habilidades de forma independente.

Por outro lado, o uso da IA generativa pode ser feito de forma a complementar e ampliar nossas habilidades cognitivas atuais de maneira inteligente. Aqui o papel da educação e dos educadores é da maior importância para que a alfabetização em IA seja feita de forma a impactar positivamente o dia a dia profissional e pessoal dos estudantes.

É imprescindível promover o uso equilibrado e consciente dessas tecnologias, especialmente entre crianças e adolescentes, para garantir um desenvolvimento cerebral saudável.


Respondendo ao desafio da IA generativa na educação

Apesar dos desafios para a adoção da IA generativa na educação, existem grupos de pesquisadores e educadores que têm se dedicado a esse propósito de maneira inovadora, responsável e cuidadosa. Um exemplo é a Sociedade Internacional de IA na Educação (International AI in Education Society ou AIED, em inglês), fundada em 1993, muito antes da atual onda de IA generativa. Ela tem se dedicado a promover pesquisa e desenvolvimento rigorosos de ambientes interativos de aprendizagem para estudantes de todas as idades.

O Senac também tem investido em pesquisas para compreender e pavimentar um caminho seguro para o uso da IA generativa como aliada no processo de ensino e aprendizagem. Em um mapeamento de iniciativas de IA feito no ano de 2024 pelo Departamento Nacional do Senac, foram indicadas 93 ações desenvolvidas por 15 Departamentos Regionais. Elas foram organizadas em cinco categorias: oferta educacional, gestão educacional, formação docente, práticas docentes e conteúdos e eventos.

Dentre as iniciativas, podemos destacar novas ofertas educacionais que têm por objetivo formar profissionais em habilidades voltadas para atuar com a IA, como o Curso Técnico de Inteligência Artificial (GO), o MBA em Ciência de Dados, Business Intelligence e Inteligência Artificial (RS) e a Pós-Graduação em Inteligência Artificial (SP).

Além da oferta, a gestão educacional contempla iniciativas voltadas para lidar com o uso da IA pelos Departamentos Regionais, como o Comitê Técnico de Inteligência Artificial (RN). Para que a educação profissional utilize de maneira adequada a IA, as iniciativas de formação docente são fundamentais. Nesse sentido, foram feitas oficinas, debates, podcasts, livros e palestras em diversos estados. Também foi criado um chatbot chamado Sofia (RN) para auxiliar os professores na aplicação do Modelo Pedagógico Senac em suas práticas profissionais.

Essas são algumas das iniciativas adotadas, dentre outras que ainda estão por vir. Para isso, o Senac está sempre atento às mudanças no mercado de trabalho e acompanha ativamente os agentes-chave dessa transformação para oferecer as melhores soluções em educação profissional. E conduzimos periodicamente pesquisas e processos de escuta de mercado com empresas do comércio de bens, serviços e turismo.


O Senac está atento a essas transformações e oferece a melhor formação profissional para preparar você para atuar na área da saúde. Conheça nossos programas e cursos!

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